domingo, 17 de outubro de 2010

Sobre a desqualificação das figuras públicas através da campanha psdbista

O debate de hoje e todo o quadro montado para ele me deixaram com uma sensação enorme de injustiça e asco ao olhar para a campanha eleitoral montada para eleger o candidato psdbista à presidência.

Compartilho com a percepção de Maria Rita Khel (vide aqui o artigo, que detonou sua demissão no estadão: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/maria-rita-kehl-dois-pesos.html) que o que vemos, nestas eleições, é uma tentativa de desqualificação do voto de classe, baseado no programa de melhor distribuição de renda, levado à cabo pelo PT. Mas ainda pior do que isso, me preocupa a desqualificação total das figuras públicas que fazem parte deste partido, o único a levar a cabo, até hoje, uma verdadeira transformação social, desde nossa redemocratização.

Mais do que luta de classes, esta eleição tem se transformado em uma série de rasteiras e golpes baixos para desconstruir a imagem de Dilma e Lula, através de argumentos emotivos e mensagens subliminares.

A figura feminina de Dilma tem sido absolutamente metralhada. A mulher a favor do aborto, que mata criancinhas e permite que retirem os filhos do ventre da mãe até os nove meses de gravidez. O vice, Temer, satanista condecorado, que armou a morte da futura presidenta, para que o país possa ser governado por Satã. Nada disso era novidade até então.

Já tinha me horrorizado o fato de FHC comparar Lula a Mussolini. A comparação mais correta, como já apontou Luis Nassif (vide texto neste mesmo blog: http://penso-logo-invento.blogspot.com/2010/10/luis-nassif-importante-reflexao.html), seria a de direção inversa. A campanha feita pela direita, nestas eleições, tem tom semelhante aos embates de classe ocorridos no período da conquista de direitos em países europeus, como a época áurea do totalitarismo, em meados do século passado. É a direita brasileira colocando as garras de fora, procurando impedir, de todas as formas, o alcance de direitos por uma parcela maior da sociedade.

Mas nada me sufocou tanto quanto a mensagem subliminar - se é que se pode chamar aquele tapa na cara, descarado, de subliminar - de comparação de Lula com Hitler. E o pior, conclamando para que o telespectador tenha uma boa fonte de informação para distinguir o que ocorre na realidade: assinando Folha de São Paulo. O início da propaganda fala de um homem que criou trabalhos, promoveu melhorias sociais - não me recordo exatamente as palavras no momento - e a partir dos pequenos pontos onde está focada, numa visão estreita, a câmera se abre e só então percebemos que os pontos na verdade formam a figura de Hitler. E a voz dizendo: mas a realidade pode ser diferente. Tenha uma boa fonte de informação à mão, assine Folha de São Paulo.

Foi uma única inserção, nojo, durante todos os intervalos do debate. Imagino que se houvesse mais de uma acabaria ocorrendo algum tipo de invasão aos estúdios da rede TV como protesto ao absurdo que ocorria à nossa frente. Além de todo o quadro do debate, que tivemos que suportar calados (vide notas sobre o debate no link http://penso-logo-invento.blogspot.com/2010/10/notas-sobre-o-debate.html) ainda tivemos que engolir a seco, sem choro, uma acusação e desrespeito ao maior animal político que este país criou nas últimas décadas de história.

A única coisa que urro, como eleitora, é que haja formas de garantir o respeito às personalidades políticas que estão em embates. Comparações programáticas, ou de realizações, ok. Corrupções pra cá ou pra lá, que são trazidas à tona para serem discutidas, vá lá (para além das enxurradas trazidas pela mídia para desarticular o PT que, infelizmente, deixou a desejar nesse sentido. Nada errado com noticiar os casos. Tudo errado com a mão única e a maneira como isso ocorre.). Mas a desqualificação moral e o incutimento do medo como base das emoções que ordenarão os votos dos eleitores é um desrespeito à nação brasileira e a todos os eleitores. É um desrespeito à nossa história, às nossas conquistas, às figuras públicas que formamos e que espelham parte de nossa diversidade cultural e social. É um desrespeito a mim, a você e ao legado que deixaremos no daqui para adiante. É um fortalecimento de tudo o que há de pior em uma sociedade, dos valores mais mesquinhos, da mentira e do ódio, da difamação e do não direito de defesa, que está entre as piores injustiças que um homem ou mulher público/a podem ter que engolir.

É por tudo isto que eu espero, rezo, peço, converso, escrevo, dialogo. É no país do diálogo e do amor que eu acredito, do respeito à política e aos políticos. Do respeito ao eleitorado, à sua história. Do respeito à história de um povo que se faz também através da história de sua mobilização política e seus homens públicos. Eu não quero um país comandado por quem não entende o que é o respeito, por quem não entende o que é dignidade.

Torço, com todas as moléculas do meu ser, que dia 31 de outubro seja um dia de luz e paz, que nos dê como resultado um país mais justo, democrático e de respeito a todos os brasileiros. E que o PT nos ensine, mais uma vez, a via do diálogo e possibilite a união, ao invés da discórdia.

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