terça-feira, 12 de outubro de 2010

Opinião recebida - 1

Carlos:

Eu tenho uma doméstica. Ela é um amor de pessoa. Assino a carteira, pago as férias, faço o que posso e não posso. Ela é um amor de pessoa. E, no que eu posso, ajudo a administrar o cotidiano dela. Sem assistencialismo. Mas, com enorme respeito. Ela está comigo há 4 anos. Senta na mesa, debate tema, faz minhas malas. Cuida de minha filha como se fosse dela.

Na ausência de maridos ou coisas parecidas em minha casa, ela troca a luz, vai ao banco e paga as minha contas. Bota ordem na cozinha, no galinheiro. Arruma, passa. E, ainda me dá bronca.

Dias destes, durante o primeiro turno, ela veio me contar do que tinha ouvido na favela. Ela não chama favela de "comunidade". Chama de favela mesmo. Ninguém ensinou a ela outro nome.

Ela ouviu que o Temer era satanista. Que era o filho da "besta", que fazia ritual ao demo. Eu ri. Não dei bola. Afinal, devia ser bobagem de algum bêbado, destes milhões de filhos da exclus ão social que tomam umas e outras, nos domingos de tiroteio, e saem por aí falando bobagens.

Outro dia veio com outra coisa. A Dilma era assassina. Eu não dei bola, ora bolas! Estamos aonde, ora pois?

Eu não fiz minha parte. A Gilda é um amor de pessoa. Acho que o que ela queria mesmo era ouvir a minha opinião, era ter uma "garantia" de que isso tudo era boato. Na minha pretensão iluminista, eu agi como a elite petista de plantão: desconsiderei a opinião pública, desconsiderei a fé alheia.

Mas, como é que eu, filha da Razão, podia lá imaginar que no porão dos excluídos o culto ao Satã (Deus meu, através do Temer!) pudesse ser usado eleitoralmente?

Mas foi. Nunca antes na história desse país ficamos tão próximos à inquisição.

Todos literalmente sabem o quanto eu defendi a Marina e o quão fiquei em dúvida entre ela e a moça do Planalto. Me torturei. Li o Dows para aprender a calcular. Será que calculei certo ao demorar tanto a decidier?

Mas, para mim não dá. Este segundo turno me ensinou algo que sinceramente, eu juro que não sabia. Há ainda no Brasil um grupo que não é de direita. A direita tem projeto liberal, vide o Estadão. Há na campanha do Serra o apelo ao terrorismo, à falta de ética, ao ódio, ao preconceito, ao revanchismo.

Nâo dá para tolerar a intolerância. Viva Deus, Viva os ateus. Mas, eu não perdôo a partir de agora nenhuma das palavras do Serra. O que ele fez foi elevar o retrocesso ao debate, num país tão carente de políticas, de propostas. Num país tão carente dos ensinamentos e valores de fato cristãos, ele é o primeiro a pregar a intolerância.

Não dá! Agora, mexeram com meus mais profundos valores. Agora, eu sou pela ética, justiça social e diversidade.

Abaixo a idade média e via o Estado laico! Quem diria que seríamos rebaixados a isso!

Mara Telles

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