domingo, 17 de outubro de 2010

Notas sobre o debate / Rede TV

Interessante ver como a força política da imprensa continua ativa e agressiva. Acompanhando o debate pessimamente organizado de hoje, da Rede TV, com direito a vaias e palmas de um auditório presente fisicamente no mesmo espaço que os candidatos e que não respeituou a necessidade do silêncio - e que também não foram retirados, como seria o correto, a partir do momento em que se manifestaram - pudemos ver, novamente, as condições desiguais de tratamento dos candidatos.
A avaliação sobre o desempenho dos candidatos virá posteriormente. A princípio, gostaria de comentar sobre a estrutura do debate em si.
O básico sabemos: pergunta, resposta, réplica, tréplica. Agora desligar o microfone é imediato pra Dilma Roussef, após acabar seu tempo de resposta, e admite alguns segundos a mais pro candidato José Serra. Tudo por acaso.
Além disso, no pedido de direito de resposta, feito por Dilma, o repórter pediu à candidata que anunciasse, em público, o motivo do pedido - acompanhado de vaia da platéia isenta - que foi então imediatamente julgado, a partir da explicação exaustiva possível de dar em uma situação de exposição pública como esta. Assessoria política foi inventada ontem e eles ainda não entenderam que não precisam perguntar tudo diretamente ao candidato. Principalmente ao vivo e a cores, em HD e 3D. A não ser que seja para beneficiar José Serra.
Ao fim do debate, mais do dobro do tempo para que José Serra fizesse suas considerações à repórter, realizando inclusive mais propaganda eleitoral, além da "avaliação" a respeito do debate.
O debate estava sendo acompanhado por 27 pretensos indecisos, todos da CIDADE de São Paulo, há pelo menos dois mandatos comandada pelo PSDB, com o estado sendo governado pelo partido há 16 anos e com uma população sabidamente marcada pela tendência à direita. Eram 27 pretensos indecisos - atento que a taxa de indecisos, hoje, varia entre 7 e 8% da população, segundo as últimas pesquisas, o que dificulta encontrar indivíduos para formar este grupo, e, principalmente, com heterogeneidade suficiente para ter ao menos alguma representatividade do eleitorado indeciso. Estes 27 indecisos estavam avaliando o andamento do debate e a atuação dos candidatos e, gente, coincidentemente, migraram majoritariamente para o Serra. Reforço, também, que os comentários a respeito da técnica inovadora foram sucintos e superficiais, indicando, apenas, que José Serra havia sido superior em todos os quadros, exceto aquele das perguntas das jornalistas.
Devo dizer que como pesquisadora, repudio o uso feito de consultas absolutamente a-metodológicas e tendenciais. Este tipo de utilização não apenas fere o direito à veracidade e à informação - que sem dúvida tem sido recorrente nesta campanha, tanto por parte do PSDB quanto da imprensa que o sustenta - como também fere a categoria de pesquisadores e desrespeita o trabalho que arduamente realizamos todos os dias, para permitir que a população tenha a informação mais próxima da realidade, e apresentada da forma mais isenta possível. Pesquisa não é trololó.
Quanto à atuação dos candidatos, me indigna que não haja, ainda, instrumentos capazes de responsabilizar juridicamente candidatos pelos falsos testemunhos dados e pela irresponsabilidade com que comandam o debate.
José Serra, há algum tempo, em sua campanha e nos debates, tem distorcido informações e dados, fugido à resposta de perguntas, se exaltado com a impossibilidade dessa fuga em determinados momentos, além de prometer mundos e fundos - todas as promessas, todas, sem exceção, que interessam dizer imediatamente, sem a menor preocupação com coerência de discurso, de plano de governo, de histórico do partido ou de qualquer outro tipo de coerência possível, mesmo que seja a da impossibilidade financeira de realizar tudo o que vier à cabeça, no momento eleitoral.
Para arrematar, ainda tivemos que assistir, calados, ao comercial da Folha de São Paulo, veiculado no intervalo do debate, em que há uma clara mensagem subliminar de comparação de Lula a Hitler. O pior: pedir direito de resposta é dar publicidade ao fato. Ficar calado é engolir o batráquio goela abaixo.

Ps: o que acabei de ver agora é que o comercial usado pela Folha de São Paulo é antigo. Sua postagem no Youtube é de 2006. Oportuno recolocá-lo e ainda ter a blindagem de ter usado um comercial bem avaliado à época, não?
O link para a propaganda: http://www.youtube.com/watch?v=6t0SK9qPK8M

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